segunda-feira, 9 de março de 2009

sábado, 7 de março de 2009

Rádios Piratas???


Não podemos dizer que ver estampado nas páginas dos jornais mais uma manchete contra as rádios comunitárias, como foi o caso das manchetes de hoje (10/02), tenha sido uma surpresa. Afinal, quem acompanha as lutas pela democratização da comunicação já cansou de ver esse tipo de notícia.

Também não dá para achar surpreendente a maneira como os “jornalistas comprometidos com a ética e a verdade” descreveram a operação realizada na Cidade de Deus.

Será que devemos achar espantosa a montagem das fotos e o jogo de palavras tentando veicular as emissoras não autorizadas ao crime organizado?

E a ausência do contraditório, princípio básico do jornalismo, não respeitado na matéria, o que pensar?

Infelizmente, neste caso, não há nenhuma novidade.

A “novidade” nessa historia toda foi a presença do BOPE. Aliás, o que fazia a tropa de elite da Polícia Militar do nosso estado numa operação da ANATEL para fechamento de rádios comunitárias? Será que não tinham coisa mais importante para fazer do que fechar rádios não autorizadas? Não autorizadas não porque não querem ter autorização. Pois, 99% das rádios que estão operando sem autorização estão por total ineficiência do poder público, do ministério das comunicações que recebeu mais de 18 mil pedidos e, em 11 anos de regulamentação da lei 9.612, só autorizou definitivamente pouco mais de 3 mil emissoras.

Será que os policiais “mais bem preparados” do nosso estado não tinham outras demandas mais urgentes como, por exemplo, achar o bandido que fugiu pela porta da frente do presídio de alta segurança, passando despreocupadamente por agentes penitenciários e policiais?

Será que não tinham nenhum traficante ou miliciano que aterrorizam dia e noite cidadãos e cidadãs do nosso estado que merecessem mais atenção do que uma rádio comunitária?

O que será que está por trás de tudo isso, que perigo oferece as rádios comunitárias?

Já sei, dizem, descaradamente, como na matéria, que rádio comunitária pode derrubar avião. O próprio representante dos empresários de emissoras comerciais afirma que são 15 mil rádios comunitárias no ar. Não é razoável achar que se elas derrubassem avião os países em guerra teriam um estoque delas ao invés das modernas armas antiaéreas?

Historicamente as rádios comunitárias são discriminadas. No fundo não são as rádios, são as pessoas que as fazem, onde estão operando, a quem estão servindo. É a favela, a periferia, o povo expropriado. A discriminação é bem maior!

E, apesar de toda repressão e discriminação elas estão aí, falando para toda a comunidade, ganhando audiência e credibilidade, prestando os serviços jamais prestados pelas concessionárias comerciais. São elas que ajudam o povo a se organizar, levando a informação de maior interesse da comunidade, mobilizando a sociedade para ações locais, resolvendo problemas que, muitas vezes, deveriam ser resolvidos pelo estado.

São tratadas como coisa criminosa, mas são as mais procuradas pelos órgãos públicos para que prestem serviços gratuitos, o que fazem, com prazer. São, constantemente, visitadas por governantes e, principalmente por políticos em época de campanha. Todos querem tirar uma casquinha das “clandestinas”: presidente, governador, prefeito, deputado, todo mundo que ficar bem na foto na hora da campanha, depois...

É para sentir vergonha de uma imprensa e de governos que se prestam a isso, não?


Tião Santos
Radialista e ex-presidente da Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

COMUNICAÇÃO DEMOCRÁRITICA, CIDADANIA PLENA.


Fraternidade e Segurança Pública

Por Tião Santos


Tendo como tema "Fraternidade e Segurança Pública" e como lema "A Paz é fruto da Justiça", a Campanha da Fraternidade 2009, liderada pela igreja Católica em comunhão com outras igrejas cristãs, levará à sociedade brasileira a discussão da segurança pública.Dezembro 2008

Tendo como tema "Fraternidade e Segurança Pública" e como lema "A Paz é fruto da Justiça", a Campanha da Fraternidade 2009, liderada pela igreja Católica em comunhão com outras igrejas cristãs, levará à sociedade brasileira a discussão da segurança pública. Infelizmente, a questão da violência e da insegurança é hoje um fenômeno que atinge a todos, em todos os cantos do país. Não é mais um problema das grandes metrópoles e de responsabilidade apenas das autoridades, é um problema de todos nós.Durante muito tempo a questão da segurança pública foi vista apenas como questão dos estados, das polícias. Pouca participação e interferência do governo federal e nenhuma participação da sociedade. A idéia de que a segurança pública é um problema de polícia levou-nos ao caos de insegurança que vivemos hoje em todo país.
É preciso virar a chave, acender a luz, abrir portas e janelas para que novos ares cheguem aos cantos mais escondidos e obscuros desse que é o tema mais importante para nós nos dias de hoje: a "(in)segurança pública". Sem medo de errar, podemos afirmar que sem a participação da sociedade civil, não há salvação para a questão da violência e da (in) segurança pública.
Por isso, achamos de fundamental importância a abordagem da Campanha da Fraternidade do próximo ano. Acreditamos que, neste momento, quebrar tabus e popularizar o tema é fundamental para darmos início, enquanto sociedade, a busca de soluções para esse grave problema. Um dos objetivos da campanha é levar as pessoas a refletirem sobre os seus direitos de viver numa sociedade segura, aonde o ir e vir sejam respeitados, onde não haja medo de bala perdida, de seqüestro relâmpago, de confrontos armados em plena cidade, etc.
É preciso entender que a violência é um fenômeno epidemiológico. Vivemos uma epidemia de violência e uma ausência de políticas publicas eficazes. E, como no caso das epidemias, temos que dar tratamento de choque, ir ao foco, nas raízes, ver o todo e as partes. Trabalhar duro na prevenção, diagnosticar e chegar antes do problema.Precisamos incorporar a cultura de que a violência acontece na rua, no bairro, na cidade e, portanto, não pode ser tratada como problema apenas das autoridades estaduais e federais. É um problema do município, das autoridades e da sociedade local.
Neste contexto, a Baixada, castigada historicamente pelos grupos de extermínios, pelas bárbaras chacinas e pelo alto grau de violência contra a juventude, principalmente a pobre e negra, começa a dar bons exemplos de como se deve combater a violência, promovendo políticas publicas de prevenção. É o caso de Nova Iguaçu que, neste ano, reduziu em 25% o índice de homicídios dolosos (com intenção de matar).
Graças à implantação e desenvolvimento de ações do GGI (Gabinete de Gestão Integrada), combinada com outras ações de governo, principalmente no que se refere a políticas na área de educação, Nova Iguaçu mostrou e vem mostrando que é possível reduzir a violência e, sobretudo, trabalhar para a construção de uma cultura de paz. A Paz é fruto da Justiça e a Esperança companheira das duas. Em 2009, com os primeiros resultados das ações do PRONASCI – Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, com a realização da I Conferencia Nacional sobre Segurança Publica e com a Campanha da fraternidade, temos esperança de que o terreno árido da (in) segurança poderá se transformar em solo fértil para o plantio e a colheita da Paz!
Tiao Santos é Coordenador de projetos de segurança pública e juventude do Viva Rio e membro da Comissão Nacional de Organização da I Conferencia de Segurança Publica.